7 de março de 2011

Rolinha roxa no meu jardim

No jardim da minha casa há um pé de romã que fica bem em frente à janela do meu quarto.

No dia 05 de fevereiro reparei que uma pomba da espécie rolinha roxa procurava gravetos, e em uma das vezes em que ela encontrou um, acompanhei-a com o olhar para ver aonde ela ia. Bingo! Ela levou o graveto para outra rolinha que já estava no pé de romã fazendo o ninho do casal. Uma graça a minha descoberta! Fiquei um bom tempo reparando os dois naquele dia, que era um sábado.

No domingo eu não vi movimento de construção do ninho e nem sinal das pombinhas.
Na terça seguinte observei que havia uma delas no ninho, quietinha, parecendo já chocar os ovos. E desde então eu passei a acompanhar, da janela do meu quarto, aquele casal de rolinhas.

Pesquisando na internet fiquei sabendo que as rolinhas roxas são monogâmicas e que o casal fica junto para sempre. Os ninhos são rasos, como pequenas tigelas, feitos de ramos, gravetos, e ainda secreções como a saliva e fezes para dar certa liga aos gravetos do ninho. Macho e fêmea chocam os ovos, que geralmente são dois.

Nos dias que se seguiram, eu passava horas acompanhando essa família de inquilinos da minha árvore. O casal não deixava o ninho sozinho por nem um minuto. Geralmente, por volta das 10 horas da manhã, um deles chegava para substituir o que estava chocando os ovos, e este levantava vôo, pousava no fio de luz, se espreguiçava, se limpava e voava para longe, certamente para procurar alimento. Perto do meio dia este voltava e assumia seu posto no ninho. À tarde esse processo se repetia. Creio que a rolinha que passava a maior parte do tempo chocando os ovos devia ser a fêmea. O macho ficava sempre por perto, no fio de luz ou no muro da casa da frente.

Até que cerca de 15 dias depois de eu descobrir as rolinhas e o ninho, eu percebi que a família já estava maior. Havia nascido um filhote. Curiosamente só um, pois o natural é a postura de dois ovos. Mas esse seria filho único.

Ao longo dos dias observei atentamente a rotina das rolinhas. Elas não deixavam o filhote sozinho, e continuavam se revezando para comer. Quando chegavam do vôo traziam no bico o alimento para o filhote. Na verdade os pais se alimentam e produzem um líquido nutritivo no papo com o qual alimentam a cria.

Foi lindo ver o filhotinho crescendo. Com pouco tempo eles quase não cabiam mais no ninho, que estava ficando pequeno para filhote e mãe (ou pai) juntos.
Muito rápido o filhote cresceu, a plumagem se encheu, e ontem ele começou a sair do ninho. A essa altura os pais já o deixam sozinho por horas, o que me angustia um pouco. Eu fico com receio de que nenhum deles volte, imaginando que já esteja na hora da cria seguir o seu caminho sozinha. Mas ainda não. Eles sempre voltam com o papo cheio de alimento, quando o filhote come rapidamente e, saciado, se aconchega quietinho junto ao corpo quente da mãe/pai. As chuvas esses dias estão torrenciais, e quando eu chego na janela, lá estão os pais, firmes e fortes ao lado do filhote, tomando chuva na cabeça mas protegendo como possível o pequeno pássaro ainda indefeso.

Percebi que o filhote é deixado sozinho cada vez com mais freqüência, e que quando a mãe ou pai chegam com o alimento, eles já não vão mais de encontro ao filhote. Ficam alguns galhos longe, se mexendo e arrulhando, e tenho a impressão de que esse comportamento é proposital, pois percebo que desse modo, o pequenino começou a dar pequenos vôos em direção aos pais. Dia a dia fazendo assim, logo ele vai ter confiança para voar mais longe.

Em um mês eles construíram o ninho, botaram o ovo, chocaram, o filhote nasceu, e a família já está quase pronta, creio eu, para ir embora da minha árvore. Árvore que agora conta com dois ninhos de rolinha roxa. Em dezembro do ano passado nós descobrimos o primeiro ninho de rolinha no nosso pé de romã. Na época havia dois filhotes já crescidinhos. Viajamos no Réveillon e na nossa volta já encontramos o ninho abandonado e vazio. Nosso pé de romã parece estar virando condomínio de rolinhas, o que eu acho ótimo, pois é maravilhoso poder observar tão de perto o milagre da natureza.

Sei que nos próximos dias eu vou acordar e já não vou mais achar a família ali tão perto da minha janela. Desejo que esse filhotinho sobreviva e siga seu caminho natural, e, quem sabe, daqui a algum tempo ele volte, acompanhado, para construir o seu ninho na nossa árvore, recomeçando o ciclo da vida...

Dessa família de rolinhas eu já sinto saudade... O bom é que fotografei tudo para o registro não ficar apenas na memória. Daqui a algum tempo vai ser bom rever esses inquilinos, mesmo sendo apenas por fotos.

Rolinha chocando - 10.02.11

O filhotinho - 05.03.11


A mãe e o filhote no ninho - 05.03.11


Filhote já fora do ninho, junto com a mãe - 08.03.11


Mãe alimentando o filhote. Ele já sai da árvore... 09.03.11
 

09.03.11


Filhote sozinho no telhado, tomando um sol, depois de muita chuva!
12.03.11


9 comentários:

Anônimo disse...

Ju,
muita linda essa história real!
Só Deus mesmo, para dar a dádiva da vida, o sopro da criação!!!
Legal você dedicar um pouquinho do seu tempo, para acompanhar,
registrar e nos contar um momento tão simples, mas tão especial!
Beijokas, Giovana.
14/03/2011

Luiz Carlos Catossi disse...

Legal, vc é mesmo observadora. Parabéns. No seu relato tem muitos detalhes que eu desconhecia.

+ disse...

Olá Ju, tudo bom!?
Vi seu comentário lá no meu blog e também acabei de ler a sua aventura com as rolinhas. Olha, quando leio algo assim, sobre a natureza, lembro de como Deus é perfeito em sua criação. Ele fez tudo corretamente. Quando você imaginava que os "Pais" do filhotinho não iriam mais voltar ...bem...eles nunca deixaram de alimentar o seu "mulequinho(a)"..rs. Mas, infelizmente no mundo "Humano" as notícias contam uma história bem diferente.Como o que houve aqui no meu Estado: os pais mataram o seu filho de 4anos espancado porque estava com fome e queria comida.Triste! E sobre a rolinha do meu texto, não contei um fato triste para não perder o encanto da crônica. Na madrugada um gato veio e levou todo mundo. Só ficaram os restos do ninho. Que bom que a sua teve um final feliz..rs.

Eliane disse...

Oi, Juuuu! Amei a história que você narrou com tamanha riqueza de detalhes! Antes mesmo de ver as fotos, já dava para se ter uma ideia do fato. Um grande beijo, Lilica.

Anônimo disse...

Olá, estou com uma hóspede chocando em uma árvorezinha em minha sacada e procurando informações na net encontrei seu blog, adorei sua história, rica em detalhes e repleta de sensibilidade! Observando fatos assim na natureza os seres humanos deveriam rever algumas atitudes perante aquilo que fazem em suas vidas e com a criação de seus filhos... Abraços, Elainy

JUJUbildes disse...

Grata pelos comentários, pessoal!
É revigorante poder observar fatos tão lindos da natureza, dos animais ditos irracionais... será que são mesmo? Rs... Vcs têm razão, às vezes os homens parecem precisar aprender com os bichos...
Beijocas!

Anônimo disse...

Então, tava procurando saber informações sobre essas aves, pois o mesmo acontece com um ninho que tenho aqui em minha casa, engraçado que busquei justamente o que vc informou com sua observação. fico grato! e depois irei fazer um relato sobre os meus amiguinhos de penas!
Eduardo Rofers. eduardorofers@gmail.com

Anônimo disse...

Aqui em casa também temos nossos hospedes...rs.. Descobrimos que são 2 ovos! Espero ansiosa pelo nascimento dos filhotinhos. Acredito que da construção do ninho até hoje, se passaram 15 dias!

Anônimo disse...

Coisa mais linda essa história e esse registro fotográfico. Parabéns por tamanha sensibilidade e pelo respeito aos animais e à natureza

"A Felicidade só é real quando é compartilhada."
(Christofer Mccandles)