12 de março de 2011

Quanto tempo demora?


Acordei com o seu gosto e a lembrança do seu rosto. Mas, daqui a um mês, ela vai ter se dissipado, eu sei. Quando salpicamos os dias de lacuna, o tempo acaba apagando tudo, até as memórias mais resistentes. No começo, é um esforço para não deixar as reminiscências submergirem, trazendo-as à tona toda hora, num resgate incessante. Há quem diga que isso se chama esperança. Eu chamo de teimosia. A gente resiste a ver morrer, quer sempre salvar. Dá um certo desespero, é um derramamento de angústias. Mas tudo o que é sedimento uma hora sucumbe e afunda. Devagar. O inflexível não tem como ser fácil.

Não é fim do mundo. Até porque ele não acaba. Daqui a um mês, a Lua vai continuar no mesmo lugar.

E a saudade em mim agora, quanto tempo será que demora? Sentimentos assim não demoram. Perduram. Daqui a um mês, um ano, uma década.

E a Lua lá, no mesmo lugar.

 
(Kandy Saraiva - Idéias na Janela)

7 de março de 2011

Rolinha roxa no meu jardim

No jardim da minha casa há um pé de romã que fica bem em frente à janela do meu quarto.

No dia 05 de fevereiro reparei que uma pomba da espécie rolinha roxa procurava gravetos, e em uma das vezes em que ela encontrou um, acompanhei-a com o olhar para ver aonde ela ia. Bingo! Ela levou o graveto para outra rolinha que já estava no pé de romã fazendo o ninho do casal. Uma graça a minha descoberta! Fiquei um bom tempo reparando os dois naquele dia, que era um sábado.

No domingo eu não vi movimento de construção do ninho e nem sinal das pombinhas.
Na terça seguinte observei que havia uma delas no ninho, quietinha, parecendo já chocar os ovos. E desde então eu passei a acompanhar, da janela do meu quarto, aquele casal de rolinhas.

Pesquisando na internet fiquei sabendo que as rolinhas roxas são monogâmicas e que o casal fica junto para sempre. Os ninhos são rasos, como pequenas tigelas, feitos de ramos, gravetos, e ainda secreções como a saliva e fezes para dar certa liga aos gravetos do ninho. Macho e fêmea chocam os ovos, que geralmente são dois.

Nos dias que se seguiram, eu passava horas acompanhando essa família de inquilinos da minha árvore. O casal não deixava o ninho sozinho por nem um minuto. Geralmente, por volta das 10 horas da manhã, um deles chegava para substituir o que estava chocando os ovos, e este levantava vôo, pousava no fio de luz, se espreguiçava, se limpava e voava para longe, certamente para procurar alimento. Perto do meio dia este voltava e assumia seu posto no ninho. À tarde esse processo se repetia. Creio que a rolinha que passava a maior parte do tempo chocando os ovos devia ser a fêmea. O macho ficava sempre por perto, no fio de luz ou no muro da casa da frente.

Até que cerca de 15 dias depois de eu descobrir as rolinhas e o ninho, eu percebi que a família já estava maior. Havia nascido um filhote. Curiosamente só um, pois o natural é a postura de dois ovos. Mas esse seria filho único.

Ao longo dos dias observei atentamente a rotina das rolinhas. Elas não deixavam o filhote sozinho, e continuavam se revezando para comer. Quando chegavam do vôo traziam no bico o alimento para o filhote. Na verdade os pais se alimentam e produzem um líquido nutritivo no papo com o qual alimentam a cria.

Foi lindo ver o filhotinho crescendo. Com pouco tempo eles quase não cabiam mais no ninho, que estava ficando pequeno para filhote e mãe (ou pai) juntos.
Muito rápido o filhote cresceu, a plumagem se encheu, e ontem ele começou a sair do ninho. A essa altura os pais já o deixam sozinho por horas, o que me angustia um pouco. Eu fico com receio de que nenhum deles volte, imaginando que já esteja na hora da cria seguir o seu caminho sozinha. Mas ainda não. Eles sempre voltam com o papo cheio de alimento, quando o filhote come rapidamente e, saciado, se aconchega quietinho junto ao corpo quente da mãe/pai. As chuvas esses dias estão torrenciais, e quando eu chego na janela, lá estão os pais, firmes e fortes ao lado do filhote, tomando chuva na cabeça mas protegendo como possível o pequeno pássaro ainda indefeso.

Percebi que o filhote é deixado sozinho cada vez com mais freqüência, e que quando a mãe ou pai chegam com o alimento, eles já não vão mais de encontro ao filhote. Ficam alguns galhos longe, se mexendo e arrulhando, e tenho a impressão de que esse comportamento é proposital, pois percebo que desse modo, o pequenino começou a dar pequenos vôos em direção aos pais. Dia a dia fazendo assim, logo ele vai ter confiança para voar mais longe.

Em um mês eles construíram o ninho, botaram o ovo, chocaram, o filhote nasceu, e a família já está quase pronta, creio eu, para ir embora da minha árvore. Árvore que agora conta com dois ninhos de rolinha roxa. Em dezembro do ano passado nós descobrimos o primeiro ninho de rolinha no nosso pé de romã. Na época havia dois filhotes já crescidinhos. Viajamos no Réveillon e na nossa volta já encontramos o ninho abandonado e vazio. Nosso pé de romã parece estar virando condomínio de rolinhas, o que eu acho ótimo, pois é maravilhoso poder observar tão de perto o milagre da natureza.

Sei que nos próximos dias eu vou acordar e já não vou mais achar a família ali tão perto da minha janela. Desejo que esse filhotinho sobreviva e siga seu caminho natural, e, quem sabe, daqui a algum tempo ele volte, acompanhado, para construir o seu ninho na nossa árvore, recomeçando o ciclo da vida...

Dessa família de rolinhas eu já sinto saudade... O bom é que fotografei tudo para o registro não ficar apenas na memória. Daqui a algum tempo vai ser bom rever esses inquilinos, mesmo sendo apenas por fotos.

Rolinha chocando - 10.02.11

O filhotinho - 05.03.11


A mãe e o filhote no ninho - 05.03.11


Filhote já fora do ninho, junto com a mãe - 08.03.11


Mãe alimentando o filhote. Ele já sai da árvore... 09.03.11
 

09.03.11


Filhote sozinho no telhado, tomando um sol, depois de muita chuva!
12.03.11


"A Felicidade só é real quando é compartilhada."
(Christofer Mccandles)