O singelo ritual da cerimônia de casamento há muito ficou para trás. O altar delicadamente decorado, a música clássica, as velas, o romantismo, tudo perdeu espaço para o grande evento, o entra e sai dos fotógrafos, os flashes exagerados, os muitos watts de luz das filmagens na sua cara – te impedindo de enxergar a cerimônia e te constrangendo. Essa equipe toda, muitas vezes mal vestida e alheia ao motivo maior do acontecimento, quase faz os convidados acreditarem que estão atrapalhando o momento, sendo que eles são parte importante do ritual. Mulheres e homens de ternos coordenam o movimento por meio de celulares. Cronometram o tempo. Organizam o ambiente ricamente decorado. Tropeçam nos fios. O repertório musical parece a trilha sonora de um filme. O exagero nas cerimônias de casamento levou a Igreja Católica a repensar as celebrações. A “espetacularização” do ritual vinha preocupando. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está realizando uma consulta nacional às dioceses para verificar como andam a preparação e celebração dos casamentos no Brasil. “O mistério do sacramento não pode ser banalizado. Em algumas situações, há até uma descaracterização da igreja”, analisa o padre Gustavo Haas, assessor da comissão de liturgia da CNBB. Na opinião do padre, os noivos não podem valorizar apenas a ostentação: “O rito do casamento é simples, modesto. Estamos pensando seriamente em mudanças. Mas para o bem dos noivos”, ressalta Haas.
Eu concordo! É preciso que a igreja imponha algumas restrições. A empresária Ana Lúcia Oliveira, dona de uma empresa de cerimonial, concorda que em alguns casos há abuso. Ela soube de um casal que deixou o altar ao som do hino do time de coração do noivo. “Isso assusta. É um exagero. As pessoas começaram a inventar.”
É claro que os noivos querem registrar o momento e querem que ele seja o mais especial possível. Mas é preciso repensar a maneira de se fazer isso. Que tal ter apenas uma pessoa filmando, bem vestida e discreta, posicionada em um local estratégico e pré determinado da igreja? Que tal fotografias só na entrada e na saída, ou, no máximo, na hora da troca das alianças? Ou ainda, se houver recepção, este sim é o lugar apropriado para os muitos flashes e descontração.
O casamento na igreja foi reduzido a um mero espetáculo, onde nem os padres escapam da coreografia. É horrível de se ver a futilidade e a vaidade presente numa cerimônia que deveria ser repleta de espiritualidade. Talvez isso explique, em parte, a facilidade com que se faz e desfaz um.
Há que se resguardar o momento religioso, momento de consagração de duas pessoas, de promessas que deverão ser lembradas e guardadas todo dia e para sempre, e não simplesmente arquivadas numa fita magnética na última gaveta do armário menos acessível. As lembranças da cerimônia, antes de mais nada, devem ser guardadas nas mentes e nos corações. A cerimônia de casamento deve ser singela, bonita e espiritual. “O essencial é invisível aos olhos”, já dizia o Principezinho. E ele estava certíssimo!
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